(Publicado originalmente em 26/12/2014 no link http://catedralmetodista.org.br/colunas/vai-e-procede-tu-de-igual-modo/)
LUCAS 10.25-37
O contexto – Encontro com os discípulos para relatório e avaliação da Missão dos 70. Estavam presentes também outras pessoas e dentre elas um doutor da lei mal intencionado que tudo ouvia com a finalidade de, no momento certo, fazer uma pergunta que pudesse colocar Jesus em má situação perante seus discípulos e a multidão que o seguia. Surgiu o momento esperado e o doutor da lei não perdeu tempo, fez a pergunta: “Mestre (Rabi), que farei para herdar a vida eterna?”, ou seja, que farei para ser salvo? Este doutor da lei sabia que Jesus, nas suas ministrações dava a entender que Ele era o Messias, ansiosamente esperado, o Salvador. Se a mesma pergunta fosse feita a nós nestes dias, como cristãos, só haveria uma resposta: receba Jesus como seu salvador pessoal e confesse com sua boca que Ele é Filho de Deus Pai. Mas naquele momento Jesus não havia sido ainda crucificado nem ressuscitado dentre os mortos. Jesus, o Rabi, sabia que aquela pergunta era uma armadilha.
Então vemos uma coisa muito importante para o nosso aprendizado: A REAÇÃO DE JESUS. Jesus não só é muito inteligente, mas tem absoluto domínio próprio, sabedoria e autoridade e não reage com raiva ou qualquer outro sentimento semelhante, mas com plena calma, ele não responde diretamente, mas devolve ao doutor da lei outra pergunta: “Que está escrito na Lei? Como lês tu”? Saiba que este é o nosso padrão! A gente conhece uma pessoa mais pelas suas reações do que pelas suas ações porque estas podem ser estudadas, preparadas, elaboradas, mas as reações nos pegam desprevenidos e é aí que mostramos quem realmente somos. Portanto, cuidado com suas reações! Por outro lado, fica aqui também outro conselho: não caia na armadilha da discussão e dizer tudo o que vem à cabeça. Procure manter-se calmo, sereno e tranquilo! Finalmente, ainda um discernimento importante quanto à reunião a que comparecem discípulos, pessoas da multidão e pessoas de outras religiões bem intencionadas ou não: muito cuidado com o que é falado e feito. Reunião só com discípulos é uma coisa e reunião plural é outra bem diferente. Por isto, como discípulos, não podemos nos limitar a participar somente dos cultos públicos de domingo à noite.
Voltando agora a pergunta de Jesus: “que está escrito na Lei?” – Salvação pela Lei? Para o doutor da lei a resposta estava na ponta da língua e qualquer criança em Israel saberia responder acertadamente (é o texto que está na “mezuzá”): “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (a última parte foi acrescentada pelo doutor da lei). Jesus então declara rapidamente: “Respondeste bem (elogio!); faze isso, e viverás” (conclusão de Jesus demonstrando para todos os presentes que o doutor da lei na realidade sabia a resposta da sua pergunta, que ele não queria aprender nada, mas causar confusão).
O doutor da lei não se dá por vencido e volta à carga perguntando agora: “quem é o meu próximo?” Mais uma vez Jesus reage com toda calma e conta uma parábola, cujo objetivo é fazer o doutor da lei responder a sua própria indagação, demonstrando, de novo, suas intenções para com Jesus.
A Parábola – um método de ensino, muito utilizado pelos Rabis, que consiste numa narrativa alegórica com fundamento doutrinário. Uma história simples, do dia a dia, ilustrando uma verdade moral ou espiritual. Jesus diz que certo homem voltava de Jerusalém para Jericó e foi assaltado no caminho. Os assaltantes, além de roubarem tudo que ele tinha, bateram muito no moço deixando-o quase morto. Casualmente, ou ocasionalmente, passou por aquele mesmo caminho um sacerdote, o qual vendo o moço caído, semimorto, passou direto e foi embora. Da mesma forma, casualmente, passou também um levita; passou direto e foi embora.
Certo samaritano que seguia a cavalo pelo mesmo caminho, mas não casualmente, vendo de perto a situação do moço, teve compaixão por sua vida e então parou, desceu do cavalo, fez curativos usando azeite e vinho, pegou-o no colo, colocou-o sobre seu cavalo, voltou para Jerusalém, levou-o para uma hospedaria, pagou a diária, tratou do moço durante o resto daquele dia, e no dia seguinte prosseguiu viagem, deixando tudo organizado para que nada faltasse ao moço até o seu restabelecimento. Então a pergunta final ao doutor da lei: qual dos três homens lhe parece ser o “próximo” do moço assaltado? “O que usou de misericórdia para com ele” (o bom samaritano!), respondeu o doutor da lei. Então Jesus concluiu: vai e procede de igual modo! O principal objetivo da Parábola foi atingido, pois além de responder a pergunta permitiu que o próprio doutor da lei respondesse sua indagação.
Mas há outros detalhes importantes na parábola que merecem destaque, do ponto de vista simbólico: Jerusalém, era o lugar onde estava o templo, onde se prestava o culto ao Deus único e verdadeiro. Lugar da bênção! Descer para Jericó, é o regresso, a volta para casa, abençoado sim, mas desavisado, alheio ao perigo. O assalto, o inimigo à espreita (veio para matar, roubar e destruir – João 10.10). O moço caído, semimorto, vidas da Igreja que no ir e vir do dia a dia estão caindo nas garras do inimigo. Andar casualmente, sem objetivos definidos, sem responsabilidade, sem preocupação; quem serve ao Senhor, de verdade, não anda assim! Sacerdote, vida que herdou uma função religiosa que devia ser também espiritual, mas nem sempre é. Levita, também é uma vida que herdou uma função religiosa, diferente da sacerdotal, mas que também devia ser espiritual. Nenhum dos dois sentiu compaixão pelo caído, daí seguiram seu caminho como se nada tivesse acontecido ao redor deles. Não eram “maus”, mas também não eram bons, no sentido espiritual de vidas que se importam, que percebem a oportunidade de ser útil, custe o que custar. Samaritano, vida sem qualquer expressão ministerial oficial, mas que se importa de verdade com os necessitados de socorro, de amparo,
de cuidados; que investem o que for necessário para solucionar o problema. Que tem consigo o óleo e o vinho, a unção do Espírito Santo e o sangue de Jesus. Por isto Jesus o chama de “bom”. Davi declara no final do Salmo 23 que “bondade e misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida”.
Vai e procede de igual modo! Este é o padrão da Palavra!
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Alcides de Moraes Mendes – Mineiro, casado, pastor metodista aposentado na 4ª RE (ES/MG)
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